quinta-feira, 17 de novembro de 2016

 OS MONSTROS DO ARMÁRIO - Júlio César



Olá, olá... há quanto tempo não atualizo este blog... aconteceram muitas coisas nestes dois anos, coisas que tiraram não apenas tempo e ânimo como foco de prosseguir com projetos variados... pretendo retomar a proposta de trazer aqui os textos mais legais produzidos pelos alunos, e olha, tem é material, acumulado nestes dois anos, muita história legal, notadamente histórias de terror, oriundas de um projeto de contação de contos deste gênero nas escolas, sempre apreciado pelo pessoal. Vamos retomar com uma arrepiante narrativa de Júlio César, que já brilhou por aqui, e deve brilhar mais vezes, pois há mais trabalhos sensacionais dele. Este foi um conto de terror escrito em fins de 2014. Boa leitura!






OS MONSTROS DO ARMÁRIO
Julio César

            Em uma cidade distante daqui, havia uma família pequena, pai, mãe e dois filhos. Um dos filhos tinha 12 anos e chamava-se Robert, e a filha, de 6 anos, chamava-se Mary. Essa família mudou-se para uma casa grande e antiga, mas muito bem conservada, que não era habitada há anos. A última família que morou lá havia ido embora, após o desaparecimento de uma de suas crianças, que coincidentemente, tinha a mesma idade de Mary quando sumiu. Em 23 de dezembro, a menina que sumiu completaria 22 anos.
            A casa estava muito suja, cheia de poeira e teias de aranha. Os novos moradores foram conhecer a casa. A antiga família partira com tanta pressa que havia deixado todos os móveis lá. Alguns estavam bem degradados, mas outros não, incluindo um armário lindo de madeira, todo modelado e bem limpo, parecia que tinha acabado de ser feito. Ficava no quarto da menina que havia sumido. A polícia nunca soubera explicar: encerrou as buscas e o caso foi arquivado. Mary ficou com aquele quarto.
            No quarto de Robert havia um quadro na parede, de um rosto meio deformado, tipo “arte moderna”. Seus pais não falaram nada sobre aquilo. À noite, o menino acordou com a sensação de estar sendo observado. Devagar, olhou para o quadro e percebeu que os olhos da pintura estavam freneticamente virados para ele. No dia seguinte, falou com seus pais e eles disseram que deveria ter sido apenas um sonho.
            Na noite seguinte, foi a menina quem acordou: escutou um barulho vindo do armário, e em seguida, ouviu a porta se abrir, fazendo aquele ruído de porta de madeira quando está meio empenada, “nheeeec”. Mary fechou os olhos e sentiu uma dor no pescoço. No outro dia, ela estava com uma ferida na região da garganta. Tentou falar com seus pais, que não lhe deram ouvidos. Devia ter sido uma picada de um insetinho, e ela era alérgica, disseram.
            E novamente a menina acordou na noite seguinte ouvindo o barulho da porta do armário. Só que desta vez, viu seu irmão entrando ali! Ela foi atrás dele. Quando entrou no armário, estava tudo diferente. Era muito espaçoso, mais do que deveria ser um simples guarda-roupa! Havia uma espécie de monstro fofo e um cachorrinho de pelúcia vivo. Os dois estranhos seres explicaram que viviam ali. As crianças passaram a entrar naquele mundo todas as noites; aliás, quando era noite no mundo real, lá era dia, e vice-versa. E eles não precisavam estudar, só brincavam e brincavam, tudo que os irmãos queriam o monstro dava para eles. A passagem se fechava assim que as crianças saíam de lá.
            Certo dia, o monstro pediu que elas dormissem lá, e que de manhã fossem embora. Os dois aceitaram. A menina dormiu junto do monstro, e o menino junto com o cachorro. À noite, Mary sentiu novamente a dor em seu pescoço, porém nada disse e voltou a dormir.
            Voltaram. Os pais perceberam que os filhos estavam diferentes: a garotinha estava triste e calada, vestindo uma camisa de gola alta, e o garoto não saía da frente do relógio da sala. Mas acharam que era só uma fase, ou que estavam chateados com algo. E todo dia, ou melhor, toda noite, após bater o sino da meia-noite, eles iam para o mundo do armário. O monstro e a menina não se separavam de jeito nenhum, e o cachorro não saía de perto do menino.
 Um dia, Robert não quis entrar lá, sentia-se muito cansado... sua irmã foi sozinha. Enquanto dormia, Robert teve a mesma sensação da primeira noite naquela casa: a sensação de estar sendo observado.  Olhou diretamente para o quadro e a imagem estava diferente: já não era mais uma pintura torta, ficara do formato de um rosto humano normal, que para sua surpresa, começou a falar: alertou-o de que corria perigo. O menino, já alertado, de manhã olhou o pescoço da irmã com mais atenção e viu três furos. Como o rosto quadro havia dito!
À noite, foi até a cozinha. E só então, foi entrar no armário. Quando fez isso, pediu que a porta não fosse fechada. Não queria deixar a irmã perto do monstro. Tentou tirar Mary dali, mas o monstro, estressado, trancou as portas, e já furioso, disse:
─ Solte ela e deixe-a vir para perto de mim!
─ Não, jamais!
─ Vou contar até três... um... dois... três...
Nisso foi ficando corcunda, e seu pelo começou a cair, os dentes ficando afiados, as garras enormes, os olhos muito negros. O cachorro ficou com as orelhas pontudas, magro, olhos vermelhos, dentes afiados. Babava muito. O monstro mandou o cachorro atacar o garoto. Robert mandou a irmã fugir, e quando o cachorro pulou, puxou uma faca de prata e enfiou no peito do animal. Mary, apavorada, correu para a porta. A besta, com muito ódio, foi para cima do menino e assim saiu da frente da porta, esquecendo a chave na fechadura. A menina abriu e quando olhou para trás, viu Robert no chão e o monstro com a boca suja de sangue. Nas mãos da criatura havia pedaços de carne do seu querido irmão! O monstro avançou na garotinha, que saiu correndo, e alcançou a porta. Já ia fechando quando o horrível ser saltou e chegou à porta, mas ela conseguiu fechar e trancá-lo. Ouviu-o implorar para que abrisse o armário, que voltasse, que fossem amigos novamente. Ela não aceitou. Até que o monstro fez a voz do irmão. Ela, com os olhos cheios de lágrimas, falou:
─ Não... não é o meu irmão, ele está morto, eu o vi no chão!
E a besta, ainda imitando a voz de Robert, disse:
─ Não, irmã, eu tô vivo, abre a porta! Eu enganei ele, abra, por favor, abre!
─ Não, não, não, eu não vou abrir!!!
A criatura, vendo que não adiantava, e já com muita raiva, passou a gritar e socar a porta. A menina correu e foi chamar seus pais. Quando ela gritou que Robert estava morto, os pais correram ao quarto do filho e não o encontraram. Viram a janela aberta e acharam que alguém havia sequestrado o menino.
O sol já estava nascendo. Buscaram por toda casa, e após ouvirem a história confusa de Mary, foram verificar o armário. O pai girou a chave. Todos se prepararam. Abriu a porta, mas só havia roupas.
Depois de alguns anos as buscas foram encerradas. Os pais foram embora daquela cidade, e Mary ficou tão abalada que parou no hospício.




(Escrito em 2014, por Julio César, aluno da turma 902, CIEP Raul Ryff, Rio de Janeiro)