Olá, olá... há quanto tempo não atualizo este blog... aconteceram muitas coisas nestes dois anos, coisas que tiraram não apenas tempo e ânimo como foco de prosseguir com projetos variados... pretendo retomar a proposta de trazer aqui os textos mais legais produzidos pelos alunos, e olha, tem é material, acumulado nestes dois anos, muita história legal, notadamente histórias de terror, oriundas de um projeto de contação de contos deste gênero nas escolas, sempre apreciado pelo pessoal. Vamos retomar com uma arrepiante narrativa de Júlio César, que já brilhou por aqui, e deve brilhar mais vezes, pois há mais trabalhos sensacionais dele. Este foi um conto de terror escrito em fins de 2014. Boa leitura!
OS MONSTROS
DO ARMÁRIO
Julio César
Em
uma cidade distante daqui, havia uma família pequena, pai, mãe e dois filhos.
Um dos filhos tinha 12 anos e chamava-se Robert, e a filha, de 6 anos,
chamava-se Mary. Essa família mudou-se para uma casa grande e antiga, mas muito
bem conservada, que não era habitada há anos. A última família que morou lá
havia ido embora, após o desaparecimento de uma de suas crianças, que
coincidentemente, tinha a mesma idade de Mary quando sumiu. Em 23 de dezembro,
a menina que sumiu completaria 22 anos.
A
casa estava muito suja, cheia de poeira e teias de aranha. Os novos moradores
foram conhecer a casa. A antiga família partira com tanta pressa que havia
deixado todos os móveis lá. Alguns estavam bem degradados, mas outros não, incluindo
um armário lindo de madeira, todo modelado e bem limpo, parecia que tinha
acabado de ser feito. Ficava no quarto da menina que havia sumido. A polícia
nunca soubera explicar: encerrou as buscas e o caso foi arquivado. Mary ficou
com aquele quarto.
No
quarto de Robert havia um quadro na parede, de um rosto meio deformado, tipo
“arte moderna”. Seus pais não falaram nada sobre aquilo. À noite, o menino
acordou com a sensação de estar sendo observado. Devagar, olhou para o quadro e
percebeu que os olhos da pintura estavam freneticamente virados para ele. No
dia seguinte, falou com seus pais e eles disseram que deveria ter sido apenas
um sonho.
Na
noite seguinte, foi a menina quem acordou: escutou um barulho vindo do armário,
e em seguida, ouviu a porta se abrir, fazendo aquele ruído de porta de madeira quando
está meio empenada, “nheeeec”. Mary fechou os olhos e sentiu uma dor no
pescoço. No outro dia, ela estava com uma ferida na região da garganta. Tentou
falar com seus pais, que não lhe deram ouvidos. Devia ter sido uma picada de um
insetinho, e ela era alérgica, disseram.
E
novamente a menina acordou na noite seguinte ouvindo o barulho da porta do
armário. Só que desta vez, viu seu irmão entrando ali! Ela foi atrás dele.
Quando entrou no armário, estava tudo diferente. Era muito espaçoso, mais do
que deveria ser um simples guarda-roupa! Havia uma espécie de monstro fofo e um
cachorrinho de pelúcia vivo. Os dois estranhos seres explicaram que viviam ali.
As crianças passaram a entrar naquele mundo todas as noites; aliás, quando era
noite no mundo real, lá era dia, e vice-versa. E eles não precisavam estudar,
só brincavam e brincavam, tudo que os irmãos queriam o monstro dava para eles.
A passagem se fechava assim que as crianças saíam de lá.
Certo
dia, o monstro pediu que elas dormissem lá, e que de manhã fossem embora. Os
dois aceitaram. A menina dormiu junto do monstro, e o menino junto com o
cachorro. À noite, Mary sentiu novamente a dor em seu pescoço, porém nada disse
e voltou a dormir.
Voltaram.
Os pais perceberam que os filhos estavam diferentes: a garotinha estava triste
e calada, vestindo uma camisa de gola alta, e o garoto não saía da frente do
relógio da sala. Mas acharam que era só uma fase, ou que estavam chateados com
algo. E todo dia, ou melhor, toda noite, após bater o sino da meia-noite, eles
iam para o mundo do armário. O monstro e a menina não se separavam de jeito
nenhum, e o cachorro não saía de perto do menino.
Um dia, Robert
não quis entrar lá, sentia-se muito cansado... sua irmã foi sozinha. Enquanto
dormia, Robert teve a mesma sensação da primeira noite naquela casa: a sensação
de estar sendo observado. Olhou
diretamente para o quadro e a imagem estava diferente: já não era mais uma
pintura torta, ficara do formato de um rosto humano normal, que para sua
surpresa, começou a falar: alertou-o de que corria perigo. O menino, já
alertado, de manhã olhou o pescoço da irmã com mais atenção e viu três furos.
Como o rosto quadro havia dito!
À noite, foi até a cozinha. E só então, foi entrar no
armário. Quando fez isso, pediu que a porta não fosse fechada. Não queria
deixar a irmã perto do monstro. Tentou tirar Mary dali, mas o monstro,
estressado, trancou as portas, e já furioso, disse:
─ Solte ela e deixe-a vir para perto de mim!
─ Não, jamais!
─ Vou contar até três... um... dois... três...
Nisso foi ficando corcunda, e seu pelo começou a cair,
os dentes ficando afiados, as garras enormes, os olhos muito negros. O cachorro
ficou com as orelhas pontudas, magro, olhos vermelhos, dentes afiados. Babava
muito. O monstro mandou o cachorro atacar o garoto. Robert mandou a irmã fugir,
e quando o cachorro pulou, puxou uma faca de prata e enfiou no peito do animal.
Mary, apavorada, correu para a porta. A besta, com muito ódio, foi para cima do
menino e assim saiu da frente da porta, esquecendo a chave na fechadura. A
menina abriu e quando olhou para trás, viu Robert no chão e o monstro com a
boca suja de sangue. Nas mãos da criatura havia pedaços de carne do seu querido
irmão! O monstro avançou na garotinha, que saiu correndo, e alcançou a porta.
Já ia fechando quando o horrível ser saltou e chegou à porta, mas ela conseguiu
fechar e trancá-lo. Ouviu-o implorar para que abrisse o armário, que voltasse,
que fossem amigos novamente. Ela não aceitou. Até que o monstro fez a voz do
irmão. Ela, com os olhos cheios de lágrimas, falou:
─ Não... não é o meu irmão, ele está morto, eu o vi no
chão!
E a besta, ainda imitando a voz de Robert, disse:
─ Não, irmã, eu tô vivo, abre a porta! Eu enganei ele,
abra, por favor, abre!
─ Não, não, não, eu não vou abrir!!!
A criatura, vendo que não adiantava, e já com muita
raiva, passou a gritar e socar a porta. A menina correu e foi chamar seus pais.
Quando ela gritou que Robert estava morto, os pais correram ao quarto do filho
e não o encontraram. Viram a janela aberta e acharam que alguém havia sequestrado
o menino.
O sol já estava nascendo. Buscaram por toda casa, e
após ouvirem a história confusa de Mary, foram verificar o armário. O pai girou
a chave. Todos se prepararam. Abriu a porta, mas só havia roupas.
Depois de alguns anos as buscas foram encerradas. Os
pais foram embora daquela cidade, e Mary ficou tão abalada que parou no
hospício.
(Escrito em
2014, por Julio César, aluno da turma 902, CIEP Raul Ryff, Rio de Janeiro)
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